quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
DO CÉREBRO à MIELINA:
DO CÉREBRO à MIELINA:
COMO o EIXO NAD⁺ PODE ABRIR CAMINHO à REGENERAÇÃO NEURAL
Durante muito tempo acreditou-se que o cérebro e a gordura corporal viviam em mundos separados. Um dedicado ao pensamento, o outro à reserva de energia. Mas a ciência tem vindo a revelar uma realidade fascinante: o tecido adiposo e o sistema nervoso são parceiros íntimos numa rede que regula a energia, o envelhecimento e, talvez, a própria capacidade de regeneração neural.
Um estudo recente publicado na Cell Metabolism (2023) mostrou que certos neurónios localizados no núcleo dorsomedial do hipotálamo (DMH) — identificados pela expressão do gene Ppp1r17 — comunicam com o tecido adiposo marrom (BAT), ajustando o metabolismo energético e os níveis de NAD⁺.
Esses neurónios, designados DMH Ppp1r17, atuam como sensores de energia e temperatura: quando o corpo é exposto ao frio ou ao jejum, eles ativam a termogénese, promovendo a conversão de energia e o aumento da produção de NAD⁺, a molécula-chave da longevidade celular.
O NAD⁺: a faísca da regeneração
O NAD⁺ (nicotinamida adenina dinucleótido) é muito mais do que um cofator metabólico. Ele está no centro das vias de reparação mitocondrial, proteção neuronal e síntese de mielina.
Com o envelhecimento, o stress oxidativo e as disfunções metabólicas, os níveis de NAD⁺ diminuem drasticamente — o que se traduz em menor energia celular, neurodegeneração e falha de reparação mielínica.
A restauração do NAD⁺ tem mostrado, em múltiplos estudos, melhorar a função das células de suporte neuronal (oligodendrócitos) e aumentar a síntese de mielina.
Em modelos experimentais de esclerose múltipla (EM), o aumento do NAD⁺ através de precursores como nicotinamida ribósido (NR) ou nicotinamida mononucleótido (NMN) reduziu a inflamação, restaurou a função mitocondrial e favoreceu a remielinização.
O diálogo entre o cérebro e o tecido adiposo
O estudo dos neurónios DMH Ppp1r17 revela um novo elo: o cérebro pode, através da gordura marrom, regular a produção sistémica de NAD⁺ e otimizar o metabolismo energético.
Esta comunicação bidirecional sugere que a saúde metabólica é inseparável da saúde cerebral.
Em termos simples:
quando o metabolismo está ativo e flexível, o cérebro é mais capaz de regenerar;
quando a inflamação e a resistência à insulina dominam, a mielina sofre, a energia cai e a neurodegeneração avança.
A gordura marrom — rica em mitocôndrias — é um verdadeiro “órgão antienvelhecimento”, e o NAD⁺ é o combustível que mantém esse motor em marcha. Estimular esta via é, portanto, uma estratégia indireta de neuroproteção e regeneração.
A CDP-colina e os blocos estruturais da mielina
Mas há outro componente essencial neste puzzle: a CDP-colina (citicolina).
Enquanto o NAD⁺ fornece a energia e os sinais de reparação, a CDP-colina fornece os blocos de construção das membranas neuronais e da mielina, através da síntese de fosfatidilcolina.
Estudos mostram que a CDP-colina:
melhora a função mitocondrial e os níveis de ATP;
aumenta o NAD⁺ intracelular;
protege os oligodendrócitos e favorece a regeneração mielínica após lesões.
Ou seja, energia e estrutura caminham juntas.
Um organismo com níveis adequados de NAD⁺, CDP-colina e nutrientes lipídicos de qualidade tem maior capacidade de reparar e reconstruir o sistema nervoso.
🌿 Estratégias naturais para ativar o eixo NAD⁺–mielina
Do ponto de vista integrativo e natural, há várias formas seguras e eficazes de apoiar esta via:
1. Fontes naturais de NAD⁺ e precursores
Alimentos ricos em triptofano (peru, ovos, sementes de abóbora) e niacina (peixes, fígado, frango).
Compostos que aumentam a expressão de SIRT1, como resveratrol, pterostilbeno e quercetina.
Práticas que estimulam o NAD⁺: jejum intermitente, exposição ao frio, sono profundo e atividade física.
2. Apoio estrutural à mielina
Alimentos ricos em colina: ovos biológicos, fígado, sardinhas, gema, camarão.
Nutrientes sinérgicos: vitaminas B12, B6, B9, DHA, uridina, magnésio e zinco.
Evitar toxinas lipossolúveis (óleos refinados, solventes, pesticidas) que danificam as membranas neuronais.
3. Modulação do eixo neuro-metabólico
Manter o equilíbrio mitocondrial e inflamatório através de dieta paleo-integrativa anti-inflamatória, rica em antioxidantes, gorduras boas e polifenóis.
Promover a termogénese natural (banhos frios, caminhada ao frio moderado) para ativar o tecido adiposo marrom, tal como no estudo.
Garantir sono reparador, fase essencial para o aumento noturno de NAD⁺ e a desintoxicação cerebral.
Conclusão
O estudo dos neurónios DMH Ppp1r17 abre um novo horizonte na compreensão da regeneração neural.
Ele mostra que a energia e a reparação cerebral não começam no cérebro isolado, mas num eixo corpo–mente–metabolismo, onde o NAD⁺ atua como ponte entre o combustível e a consciência.
Cuidar das nossas mitocôndrias, do nosso sono, da nutrição e da flexibilidade metabólica não é apenas uma questão de vitalidade — é um ato de regeneração neural.
E, talvez, o primeiro passo para restaurar a mielina perdida, naturalmente.
Referências
1. Li, L. et al. DMH Ppp1r17 neurons orchestrate thermogenic and metabolic responses via NAD⁺-linked pathways. Cell Metabolism, 2023.
2. Ying, W. NAD⁺ and NADH in cellular functions and cell death. Frontiers in Bioscience, 2008.
3. Vasanthakumar, N. et al. NAD⁺ metabolism and its roles in neuroprotection and repair. Nature Reviews Neurology, 2022.
4. Hurtado, O. et al. CDP-choline enhances remyelination and improves functional recovery after brain injury. Brain Research, 2007.
5. Sasaki, Y. et al. NAD⁺ metabolism regulates remyelination in demyelinating diseases. PNAS, 2020.
6. Yao, J. et al. Resveratrol and SIRT1 activation improve mitochondrial function and myelin regeneration. Aging Cell, 2021.
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