terça-feira, 9 de dezembro de 2025
CATELICIDINA E A VITAMINA D3.
A catelicidina é uma substância natural produzida pelo nosso corpo e que possui propriedades antimicrobianas, ou seja, capaz de matar vírus, bactérias, fungos e parasitas.
Essa substância é promovida pela vitamina D3, que é produzida através da exposição aos raios solares, em especial os raios ultravioleta B.
Antes do advento dos antibióticos, muitas doenças eram curadas pela exposição ao sol.
O Prêmio Nobel de medicina em 1903 foi dado ao Dr. Finsen, que descobriu a cura de várias doenças através da exposição solar.
Hoje, no entanto, a indústria do filtro solar associou o sol a diversas doenças, o que não é totalmente verdade.
O uso inteligente da luz solar, a chamada helioterapia, que consiste na exposição ao sol por 15 a 20 minutos, duas a três vezes por semana, sem o uso de protetor solar, é importante para a obtenção de diversos benefícios, como a produção da vitamina D3.
A vitamina D3 é essencial para o funcionamento do nosso organismo, uma vez que ela controla mais de 10% do nosso genoma, sendo moduladora de quase 2 mil genes.
Além disso, a vitamina D3 também promove a produção da catelicidina, substância capaz de matar vírus, bactérias, fungos e parasitas.
A falta de vitamina D3 pode levar a diversas doenças, como gripes e resfriados, e até mesmo infarto do miocárdio.
Durante o inverno, a queda da vitamina D3 é maior, uma vez que há uma queda da exposição aos raios solares.
É importante, portanto, ter uma reserva de vitamina D3, que pode ser armazenada pelo nosso corpo.
O filtro solar, no entanto, pode impedir a produção da vitamina D3.
É importante escolher um filtro com proteção de largo espectro (que proteja contra os raios UVB e UVA) e que permita a produção da vitamina D3.
Em resumo, a exposição ao sol de forma inteligente é importante para a obtenção de diversos benefícios para a saúde.
A vitamina D3 e a catelicidina são substâncias fundamentais para o nosso organismo e podem ser obtidas através da exposição solar moderada e sem o uso de protetor solar.
REFERÊNCIAS
AHMED, A. et al. Human cathelicidin peptide LL-37 as a therapeutic antiviral targeting Venezuelan equine encephalitis virus infections. Antiviral Research, v. 164, p. 61–69, abr. 2019. AHMED,A.et al. Human Antimicrobial Peptides as Therapeutics for Viral Infections. Viruses, v. 11, n. 8, p. 704, 1 ago. 2019.
ALOUL, K. M. et al. Upregulating Human Cathelicidin Antimicrobial Peptide LL-37 Expression May Prevent Severe COVID-19 Inflammatory Responses and Reduce Microthrombosis. Frontiers in Immunology, v. 13, p. 880961, 2022.
ALAGARASU, K. et al. In-vitro effect of human cathelicidin antimicrobial peptide LL-37 on dengue virus type 2. Peptides, v. 92, p. 23–30, jun. 2017.
BARLOW, P. G. et al. Antiviral Activity and Increased Host Defense against Influenza Infection Elicited by the Human Cathelicidin LL-37. PLoS ONE, v. 6, n. 10, p. e25333, 21 out. 2011. BARLOW, P. G. et al. Antiviral potential of cathelicidins. Future Microbiology, v. 9, n. 1, p. 55–73, jan. 2014.
BODA, B. et al. Antiviral drug screening by assessing epithelial functions and innate immune responses in human 3D airway epithelium model. Antiviral Research, v. 156, p. 72–79, ago. 2018. BOURGADE, K. et al. β-Amyloid peptides display protective activity against the human Alzheimer’s disease-associated herpes simplex virus-1. Biogerontology, v. 16, n. 1, p. 85–98, 7 nov. 2014.
BRICE, D. C.; DIAMOND, G. Antiviral Activities of Human Host Defense Peptides. Current Medicinal Chemistry, v. 27, n. 9, p. 1420–1443, 27 mar. 2020. CASANOVA, V. et al. Citrullination Alters the Antiviral and Immunomodulatory Activities of the Human Cathelicidin LL-37 During Rhinovirus Infection. Frontiers in Immunology, v. 11, 4 fev. 2020. CASTAÑEDA-SÁNCHEZ, J. I. et al. Expression of Antimicrobial Peptides in Human Monocytic Cells and Neutrophils in Response to Dengue Virus Type 2. Intervirology, v. 59, n. 1, p. 8–19, 18 jun. 2016.DOSS, M. et al. Human defensins and LL-37 in mucosal immunity. Journal of Leukocyte Biology, v. 87, n. 1, p. 79–92, 6 out. 2009.
DUAN, Z. et al. Role of LL-37 in thrombotic complications in patients with COVID-19. Cellular and Molecular Life Sciences, v. 79, n. 6, 21 maio 2022.
FINDLAY, F. et al. Carbon Nanoparticles Inhibit the Antimicrobial Activities of the Human Cathelicidin LL-37 through Structural Alteration. The Journal of Immunology, v. 199, n. 7, p. 2483–2490, 1 out. 2017. GANZ, T. The Role of Antimicrobial Peptides in Innate Immunity. Integrative and Comparative Biology, v. 43, n. 2, p. 300–304, 1 abr. 2003.
HUFFORD, M.M.et al. Influenza-Infected Neutrophils within the Infected Lungs Act as Antigen Presenting Cells for Anti-Viral CD8+ T Cells. PLoS ONE, v. 7, n. 10, p. e46581, 8 out. 2012. LEE, C.-J. et al. Cathelicidin LL-37 and HSV-1 Corneal Infection: Peptide Versus Gene Therapy. TVST, v. 3, n. 3, p. 4–4, 1 maio 2014.
LEVINSON, P. et al. HIV-Neutralizing Activity of Cationic Polypeptides in Cervicovaginal Secretions of Women in HIV-Serodiscordant Relationships. PLoS ONE, v. 7, n. 2, p. e31996, 28 fev. 2012. LIMA, P. G. Peptídeos antimicrobianos sintéticos: atividade antifúngica e mecanismos de ação. repositorio.ufc.br, 2021.
MOUSAVI MALEKI, M. S.; ROSTAMIAN, M.; MADANCHI, H. Antimicrobial peptides and other peptide-like therapeutics as promising candidates to combat SARS-CoV-2. Expert Review of Anti-infective Therapy, p. 1–13, 12 abr. 2021.
MOISÉS LÓPEZ-GONZÁLEZ et al. Human keratinocyte cultures (HaCaT) can be infected by DENV, triggering innate immune responses that include IFNλ and LL37. v. 223, n. 11, p. 608–617, 1 nov. 2018. MULDER, K. C. L. et al. Current scenario of peptide-based drugs: the key roles of cationic antitumor and antiviral peptides. Frontiers in Microbiology, v. 4, 2013.
RON-DOITCH, S. et al. Reduced cytotoxicity and enhanced bioactivity of cationic antimicrobial peptides liposomes in cell cultures and 3D epidermis model against HSV. Journal of Controlled Release, v. 229, p. 163–171, maio 2016.
SCHÖGLER, A. et al. Vitamin D represses rhinovirus replication in cystic fibrosis cells by inducing LL-37. The European Respiratory Journal, v. 47, n. 2, p. 520–530, 1 fev. 2016. SOUSA, F. H. et al. Cathelicidins display conserved direct antiviral activity towards rhinovirus. Peptides, v. 95, p. 76–83, set. 2017. TAKIGUCHI, T. et al. Cathelicidin antimicrobial peptide LL‐37 augments interferon‐β expression and antiviral activity induced by double‐stranded RNA in keratinocytes. British Journal of Dermatology, v. 171, n. 3, p. 492–498, 5 ago. 2014.
TEIXEIRA, V. R.; FERREIRA, L. A.; FERNANDES, V. C. DE A. Peptídeos antimicrobianos: uma nova alternativa para tratamento de infecções multirresistentes. Revista de Iniciação Científica e Extensão, v. 2, n. Esp.1, p. 31–31, 10 jun. 2019.
TRIPATHI, S. et al. Identifying the Critical Domain of LL-37 Involved in Mediating Neutrophil Activation in the Presence of Influenza Virus: Functional and Structural Analysis. PLOS ONE, v. 10, n. 8, p. e0133454–e0133454, 26 ago. 2015.
TRIPATHI, S.; WHITE, M. R.; HARTSHORN, K. L. The amazing innate immune response to influenza A virus infection. Innate Immunity, v. 21, n. 1, p. 73–98, 11 nov. 2013. ULAETO, D. O. et al. Destabilization of α-Helical Structure in Solution Improves Bactericidal Activity of Antimicrobial Peptides: Opposite Effects on Bacterial and Viral Targets. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 60, n. 4, p. 1984–1991, abr. 2016.
WANG, G. HumanAntimicrobial Peptides and Proteins. Pharmaceuticals, v. 7, n. 5, p. 545–594, 13 maio 2014.
WANG, G.Structure of Humanb Host Defense Cathelicidin LL-37 and Its Smallest Antimicrobial Peptide KR-12 in Lipid Micelles. Journal of Biological Chemistry, v. 283, n. 47, p. 32637-32643, 25 set. 2008.
WHITE, J. H. Emerging Roles of Vitamin D-Induced Antimicrobial Peptides in Antiviral Innate Immunity. Nutrients, v. 14, n. 2, p. 284, 11 jan. 2022. YU, F. et al. Flagellin stimulates protective lung mucosal immunity: role of cathelicidin-related antimicrobial peptide. Journal of Immunology (Baltimore, Md.: 1950), v. 185, n. 2, p. 1142–1149, 15 jul. 2010.
YU, Y. et al. Engineered Human Cathelicidin Antimicrobial Peptides Inhibit Ebola Virus Infection. iScience, v. 23, n. 4, p. 100999, abr. 2020.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
DO CÉREBRO à MIELINA:
DO CÉREBRO à MIELINA:
COMO o EIXO NAD⁺ PODE ABRIR CAMINHO à REGENERAÇÃO NEURAL
Durante muito tempo acreditou-se que o cérebro e a gordura corporal viviam em mundos separados. Um dedicado ao pensamento, o outro à reserva de energia. Mas a ciência tem vindo a revelar uma realidade fascinante: o tecido adiposo e o sistema nervoso são parceiros íntimos numa rede que regula a energia, o envelhecimento e, talvez, a própria capacidade de regeneração neural.
Um estudo recente publicado na Cell Metabolism (2023) mostrou que certos neurónios localizados no núcleo dorsomedial do hipotálamo (DMH) — identificados pela expressão do gene Ppp1r17 — comunicam com o tecido adiposo marrom (BAT), ajustando o metabolismo energético e os níveis de NAD⁺.
Esses neurónios, designados DMH Ppp1r17, atuam como sensores de energia e temperatura: quando o corpo é exposto ao frio ou ao jejum, eles ativam a termogénese, promovendo a conversão de energia e o aumento da produção de NAD⁺, a molécula-chave da longevidade celular.
O NAD⁺: a faísca da regeneração
O NAD⁺ (nicotinamida adenina dinucleótido) é muito mais do que um cofator metabólico. Ele está no centro das vias de reparação mitocondrial, proteção neuronal e síntese de mielina.
Com o envelhecimento, o stress oxidativo e as disfunções metabólicas, os níveis de NAD⁺ diminuem drasticamente — o que se traduz em menor energia celular, neurodegeneração e falha de reparação mielínica.
A restauração do NAD⁺ tem mostrado, em múltiplos estudos, melhorar a função das células de suporte neuronal (oligodendrócitos) e aumentar a síntese de mielina.
Em modelos experimentais de esclerose múltipla (EM), o aumento do NAD⁺ através de precursores como nicotinamida ribósido (NR) ou nicotinamida mononucleótido (NMN) reduziu a inflamação, restaurou a função mitocondrial e favoreceu a remielinização.
O diálogo entre o cérebro e o tecido adiposo
O estudo dos neurónios DMH Ppp1r17 revela um novo elo: o cérebro pode, através da gordura marrom, regular a produção sistémica de NAD⁺ e otimizar o metabolismo energético.
Esta comunicação bidirecional sugere que a saúde metabólica é inseparável da saúde cerebral.
Em termos simples:
quando o metabolismo está ativo e flexível, o cérebro é mais capaz de regenerar;
quando a inflamação e a resistência à insulina dominam, a mielina sofre, a energia cai e a neurodegeneração avança.
A gordura marrom — rica em mitocôndrias — é um verdadeiro “órgão antienvelhecimento”, e o NAD⁺ é o combustível que mantém esse motor em marcha. Estimular esta via é, portanto, uma estratégia indireta de neuroproteção e regeneração.
A CDP-colina e os blocos estruturais da mielina
Mas há outro componente essencial neste puzzle: a CDP-colina (citicolina).
Enquanto o NAD⁺ fornece a energia e os sinais de reparação, a CDP-colina fornece os blocos de construção das membranas neuronais e da mielina, através da síntese de fosfatidilcolina.
Estudos mostram que a CDP-colina:
melhora a função mitocondrial e os níveis de ATP;
aumenta o NAD⁺ intracelular;
protege os oligodendrócitos e favorece a regeneração mielínica após lesões.
Ou seja, energia e estrutura caminham juntas.
Um organismo com níveis adequados de NAD⁺, CDP-colina e nutrientes lipídicos de qualidade tem maior capacidade de reparar e reconstruir o sistema nervoso.
🌿 Estratégias naturais para ativar o eixo NAD⁺–mielina
Do ponto de vista integrativo e natural, há várias formas seguras e eficazes de apoiar esta via:
1. Fontes naturais de NAD⁺ e precursores
Alimentos ricos em triptofano (peru, ovos, sementes de abóbora) e niacina (peixes, fígado, frango).
Compostos que aumentam a expressão de SIRT1, como resveratrol, pterostilbeno e quercetina.
Práticas que estimulam o NAD⁺: jejum intermitente, exposição ao frio, sono profundo e atividade física.
2. Apoio estrutural à mielina
Alimentos ricos em colina: ovos biológicos, fígado, sardinhas, gema, camarão.
Nutrientes sinérgicos: vitaminas B12, B6, B9, DHA, uridina, magnésio e zinco.
Evitar toxinas lipossolúveis (óleos refinados, solventes, pesticidas) que danificam as membranas neuronais.
3. Modulação do eixo neuro-metabólico
Manter o equilíbrio mitocondrial e inflamatório através de dieta paleo-integrativa anti-inflamatória, rica em antioxidantes, gorduras boas e polifenóis.
Promover a termogénese natural (banhos frios, caminhada ao frio moderado) para ativar o tecido adiposo marrom, tal como no estudo.
Garantir sono reparador, fase essencial para o aumento noturno de NAD⁺ e a desintoxicação cerebral.
Conclusão
O estudo dos neurónios DMH Ppp1r17 abre um novo horizonte na compreensão da regeneração neural.
Ele mostra que a energia e a reparação cerebral não começam no cérebro isolado, mas num eixo corpo–mente–metabolismo, onde o NAD⁺ atua como ponte entre o combustível e a consciência.
Cuidar das nossas mitocôndrias, do nosso sono, da nutrição e da flexibilidade metabólica não é apenas uma questão de vitalidade — é um ato de regeneração neural.
E, talvez, o primeiro passo para restaurar a mielina perdida, naturalmente.
Referências
1. Li, L. et al. DMH Ppp1r17 neurons orchestrate thermogenic and metabolic responses via NAD⁺-linked pathways. Cell Metabolism, 2023.
2. Ying, W. NAD⁺ and NADH in cellular functions and cell death. Frontiers in Bioscience, 2008.
3. Vasanthakumar, N. et al. NAD⁺ metabolism and its roles in neuroprotection and repair. Nature Reviews Neurology, 2022.
4. Hurtado, O. et al. CDP-choline enhances remyelination and improves functional recovery after brain injury. Brain Research, 2007.
5. Sasaki, Y. et al. NAD⁺ metabolism regulates remyelination in demyelinating diseases. PNAS, 2020.
6. Yao, J. et al. Resveratrol and SIRT1 activation improve mitochondrial function and myelin regeneration. Aging Cell, 2021.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
GORDURAS, INFLAMAÇÃO e ESCLEROSE MÚLTIPLA: O Que Nunca Te Contaram Sobre o Papel dos Lipídios na Mielina.
GORDURAS, INFLAMAÇÃO e ESCLEROSE MÚLTIPLA:
O Que Nunca Te Contaram Sobre o Papel dos Lipídios na Mielina
Quando falamos em Esclerose Múltipla (EM), a maior parte das pessoas pensa imediatamente em autoimunidade, mielina e inflamação. Poucos pensam em… gorduras.
Mas deveriam.
Afinal, a mielina — a “capa isolante” dos neurónios — é composta por cerca de 70% gordura.
E a estabilidade dessa estrutura depende de um equilíbrio muito preciso entre diferentes tipos de lípidos.
O problema?
A alimentação moderna, criada em grande parte com base no medo da gordura saturada, distorceu profundamente esse equilíbrio. E essa distorção tem impacto direto na saúde do sistema nervoso central.
Este artigo explica exatamente como e porquê.
1. A Mielina é Feita de Gordura — e Isso Muda Tudo
A mielina é uma estrutura única. Enquanto todas as membranas celulares têm uma proporção 50/50 entre gordura e proteína, a mielina é o oposto:
70% gordura
30% proteína
Isto significa que qualquer alteração sistémica no metabolismo lipídico — seja por alimentação inflamatória, deficiências nutricionais, disfunção hepática, excesso de ómega-6 ou falta de colesterol — afeta diretamente a capacidade de reparar mielina.
Por outras palavras:
> Não existe regeneração de mielina sem um ambiente lipídico saudável.
🌿 2. O Grande Problema: O Rácio Ómega-6 / Ómega-3 Descontrolado
Nas últimas décadas, a alimentação ocidental passou de um rácio ancestral 1:1 para valores entre 15:1 e 20:1.
Este excesso de ómega-6 (proveniente de óleos vegetais refinados, milho, soja, sementes industriais e animais criados com ração) cria:
inflamação crónica de baixo grau
maior peroxidação lipídica
maior oxidação de LDL e dano endotelial
ativação de microglia (inflamação cerebral)
permeabilidade intestinal e hematoencefálica aumentadas
Para uma doença como EM — cuja raiz é a inflamação neuroimune — este desequilíbrio é combustível puro.
3. Gordura Saturada Só é “Problema” Quando Vem do Lugar Errado
Há uma enorme confusão em torno da gordura saturada.
Mas quando olhamos as coisas pela lente da EM, a pergunta que realmente interessa é:
> De onde vem essa gordura?
Porque a gordura saturada dos animais modernos (ração, ómega-6 excessivo, ausência de pastoreio, stress metabólico) tem uma composição completamente diferente da gordura de animais criados naturalmente.
Animais industriais ⇒
rácio ómega-6/ómega-3 elevadíssimo
mais inflamação
gordura oxidada
menos nutrientes lipossolúveis (K2, CLA, DHA, vitaminas A/D)
Animais de pasto ⇒
rácio natural
gordura estável e anti-inflamatória
muito CLA
níveis adequados de vitamina K2 e antioxidantes
muito mais DHA nos tecidos
Ou seja:
> O problema não é a gordura saturada.
É a gordura saturada num contexto inflamatório.
E EM é uma condição altamente sensível ao contexto inflamatório.l
4. Colesterol: O Nutriente Mais Injustiçado e o Mais Importante Para Mielina
A propaganda anti-gordura também demonizou o colesterol.
Mas ele é:
o principal lipídio estrutural da mielina
essencial para a integridade das sinapses
indispensável para a plasticidade neuronal
um dos pilares da modulação imunológica
Baixo colesterol (ou má utilização do mesmo) está associado a:
maior neuroinflamação
maior vulnerabilidade oxidativa
menor capacidade de remielinização
pior prognóstico em várias doenças neurodegenerativas
O cérebro produz colesterol… mas depende de ácidos gordos essenciais e de um ambiente metabólico estável.
5. Como a Alimentação Moderna Cria Terreno Para EM
Quando juntamos tudo, vemos um padrão claro:
excesso de ómega-6
falta de ómega-3
medo da gordura natural
dependência de alimentos industriais
défice de colesterol, DHA, K2, vitaminas lipossolúveis
glicação, resistência à insulina e inflamação silenciosa
Este “terreno inflamatório” aumenta:
a ativação da microglia
a produção de citocinas neuroinflamatórias
a oxidação das membranas ricas em gordura
a permeabilidade intestinal (ligada a autoimunidade)
a permeabilidade hematoencefálica
o ataque autoimune à mielina
Isto não explica a EM por si só — mas cria as condições perfeitas para a doença progredir.
🌱 6. As Dietas Que Mostram Benefícios na EM… Surpreendem Alguém?
Estudos recentes (2020–2024) mostram que pessoas com EM beneficiam de:
Dieta cetogénica
Wahls Protocol (versão paleo anti-inflamatória)
Dietas low-carb ricas em gordura natural
Dieta anti-inflamatória com eliminação de óleos vegetais industriais
Dietas ricas em alimentos verdadeiros e gordura de pasto
Todas têm algo em comum:
removem o terreno inflamatório e restauram o ambiente lipídico necessário à mielina.
Conclusão: Em Doenças Como a EM, a Qualidade da Gordura É Uma das Chaves da Remielinização
A ciência moderna deixa claro:
A mielina é lipídica.
Os oligodendrócitos dependem de DHA, colesterol, saturados naturais e K2.
A dieta moderna distorce profundamente estes pilares.
A inflamação lipídica é uma das forças mais destrutivas no sistema nervoso.
Restaurar a qualidade da gordura pode restaurar a capacidade de reparar mielina.
Por isso, quando falamos de EM, não estamos a falar apenas de autoimunidade.
Estamos a falar de bioquímica, membranas, inflamação e do terreno onde tudo acontece.
E esse terreno depende diretamente da gordura que colocamos no prato.
Referências Científicas
Ómega-3, neuroinflamação e EM
1. Filippini et al. Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids in Neurological Diseases: A Clinical Overview. Cellular and Molecular Life Sciences, 2020.
2. Calder PC. Omega-3 fatty acids and inflammatory processes. Nutrients, 2010.
3. Weinstock-Guttman et al. Low-fat diet supplemented with omega-3 fatty acids improves quality of life in MS. Multiple Sclerosis Journal, 2005.
Desequilíbrio ómega-6/ómega-3 e inflamação
4. Simopoulos AP. The importance of the omega-6/omega-3 ratio in chronic disease. Biomedicine & Pharmacotherapy, 2002.
5. Lands B. Dietary fat and health: the evidence and the politics. Annual Review of Nutrition, 2004.
Gordura saturada e risco cardiovascular (mito)
6. Chowdhury et al. Association of dietary, circulating, and supplement fatty acids with coronary risk: systematic review and meta-analysis. Annals of Internal Medicine, 2014.
7. Siri-Tarino et al. Meta-analysis of prospective cohort studies evaluating saturated fat and cardiovascular disease. AJCN, 2010.
Permeabilidade intestinal e autoimunidade
8. Fasano A. Leaky Gut and Autoimmune Diseases. Clinical Reviews in Allergy & Immunology, 2012.
9. Berer et al. Gut microbiota and MS: intestinal permeability as a trigger. Nature, 2017.
Dieta cetogénica e Esclerose Múltipla
10. Choi et al. Effects of ketogenic diet on fatigue and quality of life in MS. Neurology, 2021.
11. Brenton et al. Pilot study of ketogenic diet in relapsing-remitting MS. Frontiers in Neurology, 2019.
Mielina e composição lipídica
12. Chrast et al. Lipid metabolism in myelinating glial cells: lessons from human inherited disorders. Journal of Lipid Research, 2011.
13. Saher et al. High cholesterol in oligodendrocytes is required for myelin formation. Science, 2005.
Assinar:
Comentários (Atom)